Família + comunidade + Estado = qualidade de vida para a pessoa idosa

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Olhando para o crescimento da população idosa, e o nosso despreparo para inseri-la num contexto menos desigual, pode-se achar que só as gerações futuras estarão prontas para isso. Ocorre que, como ensinou o compositor Lenine, “o tempo não para.”
Para equacionar o envelhecimento dentro de uma mínima qualidade de vida, a sociedade tem de abraçar e se envolver na solução dos problemas. Políticas públicas são o começo mas sem quem execute nada acontece. A família, iniciativa privada e o cultivo da cultura de voluntariado têm de se engajar no projeto do envelhecimento demográfico brasileiro. Thereza Christina Pereira Jorge

Este conteúdo é de 2016. Apesar disso, aborda um fator importante: a falta de qualidade de vida e saúde torna o idoso dependente, e o envelhecimento passa a ser doença, desencadeando uma espiral de custos para todos, culminando em hospitalização. Será preciso um esforço  de toda a sociedade, começando pela família para o envelhecimento saudável Envelhecimento Ativo, proposto pela OMS. Thereza Christina  Pereira Jorge

Por que Santa Catarina é um dos Estados com maior número de idosos do país?

Santa Catarina atrai pessoas idosas que vêm de outros Estados. Isso acabou impactando e gerando um maior envelhecimento do Estado, que é um importador de idosos. É o caso de Balneário Camboriú. Só tem velhinho lá. O turismo lá não quer mais saber de jovem. Os idosos não quebram, não destroem, não bebem e gastam nos serviços da cidade. Idosos vão se concentrar onde tem serviço.

Como as pessoas estão envelhecendo no Brasil?

No Brasil, estamos demograficamente na idade de ouro do envelhecimento. Não estamos tão idosos que precisem de tanta estrutura, a grande maioria entre 60 a 70 anos, são relativamente independentes. Na Espanha, eles têm entre 80 e 90 anos. Se a gente demora muito e não cuida, os nossos idosos vão ficar mais dependentes. Essa população brasileira está sofrendo um processo de envelhecimento muito rápido e, muitas vezes, doente — a pessoa vive mais, mas não aumenta a qualidade de vida em relação a esse envelhecimento. O que a gente está tentando agora é envelhecer com saúde.

Em SC temos 156 ILPIs (instituições de longa permanência) situadas em apenas 47 cidades. É preciso aumentar o número de instituições no Estado?

Ainda tem muita fila de espera. Na Serte, por exemplo, a gente tem quase quatro vezes a capacidade da casa em fila de espera. Há muita necessidade. Eu não sei se a solução é aumentar o número de casas a curto prazo — sim, há uma necessidade, mas, a longo prazo, é importante que as pessoas não adoeçam em uma taxa tão rápida, que elas mudem hábitos de vida para ter uma qualidade melhor. Com isso, o número de pessoas que vai ficar dependente vai diminuir.

Qual o papel do Estado em relação aos idosos?

É prover as necessidades básicas dos idosos. Temos o Estatuto do Idoso que cuida muito bem disso, mas não podemos deixar isso só na mão do Estado. Tem que ser uma parceria da sociedade organizada e a contribuição individual. Você não pode não cuidar da sua saúde e achar que o Estado vai resolver as coisas no final. Você está deixando na mão dos outros a sua saúde, não está sendo cidadão.

Existe a notícia de que o número de denúncias em relação ao idoso vem aumentando em SC. Como você avalia estes dados?

É muito importante relativizar esta informação. Por um lado pode realmente estar aumentando, como também pode estar aumentando o número de denúncias. As pessoas estão confiando mais no Estado, no poder público e fazendo denúncias. Pode ser que esse número esteja diminuindo e esse número é uma notificação. Pode ser um sinal de que os mecanismos para coibir a violência estão começando a funcionar.

Por que acontece o abandono e a negligência com idosos?

A principal causa é a estrutura familiar, que não aguenta essa pessoa. Ou não há estrutura familiar — essa pessoa ficou sozinha, ela perdeu as pessoas que a ajudam. Por exemplo, uma pessoa com demência: ela troca o dia pela noite, fica andando dentro de casa, pode sofrer um tombo, então, a família vai ter que deslocar uma pessoa só para cuidar dela. Essa pessoa vai parar de prover renda para essa família. Essa família empobrece, se estressa e não sabe como cuidar desse idoso demenciado. Acaba gerando abandono ou encaminhamento para uma casa de idosos. Não gostaria de criminalizar esta questão do abandono, não é maldade das pessoas na grande maioria das vezes. A pessoa se vê sem saída para cuidar do seu ente querido. Não que ela não tente, mas principalmente numa classe média baixa, desorganiza todo o modo de produção dessa família. Claro que o abandono pode ser pessoal e por outros motivos também, mas, se essa pessoa puder viver melhor, com mais estrutura, por exemplo, essa família mantém o idoso em casa.

 Geriatra e professor de geriatria da Unisul, André Junqueira Xavier fala sobre o papel do Estado com relação aos idosos ao site dc.clicrbs,com.br

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